POR QUE PENSAR HOJE EM UMA EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA ANTIRRACISTA?

LIMITES, TENSÕES E POSSIBILIDADES

Autores

  • Mauricio José Souza Neto IFBA

Resumo

Para mim, a educação linguística tem a ver com todas as ações feitas em relação à língua, como sua codificação, seu ensino, criação de instrumentos para sua avaliação e sua expansão, essa que é, para além de linguística, política e geográfica. A educação antirracista, por sua vez, é uma ação de vida que, pensada a partir da necessidade de luta contra o racismo. Nesse artigo, apresento, e linhas gerais, a situação da educação linguística no Brasil e, fazendo uma revisão de literatura, dialogada com bell hooks, Lélia Gonzales, Aparecida Ferreira, Eliane Santos Cavalleiro, Nilma Lino Gomes, dentre outras e outros pesquisadores e intelectuais, nacionais e estrangeiros, proponho uma educação linguística antirracista, iniciada nos cursos de Letras e continuada na educação básica.

Palavras-chave: Educação Linguística. Antirracismo. Ensino e aprendizagem de línguas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Mauricio José Souza Neto, IFBA

Licenciado em Letras Vernáculas com Língua Estrangeira Moderna (inglês) pela Universidade Federal da Bahia e Mestre em Língua e Cultura pela mesma universidade. Desenvolve trabalhos na área de ensino e de aprendizagem de línguas em perspectiva contra-colonial, e tem interesse em trabalhos dessa natureza e na relação entre língua, raça, cultura e comunidade.

Referências

ALIM, H. Sami; RICKFORD, John R.; BALL, Arnetha F. Introducing raciolinguistics. Raciolinguistics: How language shapes our ideas about race, p. 1-30, 2016.

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.

ASANTE, Molefi Keti. The Afrocentric Idea. Philadelphia PA: Temple UP, 1989.

BAGNO, Marcos; RANGEL, Egon de Oliveira. Tarefas da educação lingüística no Brasil. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 5, n. 1, p. 63-81, 2005.

BENTES, Anna Christina; MUSSALIM, Fernanda. Introdução à Linguística. Vol. 1, 2 e 3. São Paulo: Cortez, 2001.

BENVENISTE, Émile. Comunicação animal. In: Problemas de linguística geral. São Paulo: Ed. Nacional, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1976. p. 60-67.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora?: sociolinguística & educação. São Paulo: Parábola, 2005.

BRUNSON, James E.; RASHIDI, Runoko. The Moors in antiquity. The golden age of the Moor, p. 27-84, 1991.

CÂMARA, Joaquim Mattoso. História e estrutura da língua portuguesa. Padrão-Livraria Editora, 1975.

CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. Selo Negro, 2011.

CASTRO, Ivo. Curso de história da língua portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta, 1991.

CAVALLEIRO, Eliane. Identificando o racismo, o preconceito e a discriminação racial na escola. Os negros e a escola brasileira. Florianópolis: Núcleo de Estudos Negros n. 6, 1999.

CAVALLEIRO, Eliane. Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola. Selo Negro, 2001.

DA SILVA, Antonio Jose Bacelar. Português de arremedo. Cadernos de Estudos Lingüísticos, v. 61, p. 1-19, 2019.

DEWEY, John. Experiência e educação. 3. Ed. Tradução Anísio Teixeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979.

DEWEY, John. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. 3. Ed. Tradução Godofredo Rangel e Anísio Teixeira. São Paulo: Nacional, 1959.

DEWEY, John. Vida e educação. Tradução Anísio Teixeira. 6. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1967.

DIOP, Cheikh Anta. Civilization or barbarism. Chicago Review Press, 1991.

DORIGON, T. O Celpe-Bras como Instrumento de Política Linguística: um Mediador entre Propósitos e Materializações. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016.

FAULHABER, Priscila. SEKI, Lucy (Org.). Lingüística indígena e educação na América Latina. Campinas: Ed. UNICAMP, 1993.

FERREIRA, Aparecida De Jesus. Educação antirracista e práticas em sala de aula: uma questão de formação de professores. Antiracist education and classroom practices: a matter of teachers training. Revista de Educação Pública, v. 21, n. 46, p. 275-288, 2012.

FERREIRA, Ricardo Franklin. O brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afro-descendente. Psicologia & Sociedade, v. 14, n. 1, p. 69-86, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1970.

GILROY, Paul. The black Atlantic: Modernity and double consciousness. Harvard University Press, 1993.

GOMES, Nilma Lino. Educação cidadã, etnia e raça: o trato pedagógico da diversidade. In. CAVALLEIRO, E. Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola. São Paulo: Selo Negro, p. 83-96, 2001.

GOMES, Nilma Lino et al. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal, v. 10639, n. 03, p. 39-62, 2005.

GOMES, Nilma Lino. Cultura negra e educação. Revista Brasileira de Educação, v. 23, p. 75-85, 2003.

GONZALEZ, Lélia. “Por um feminismo afrolatinoamericano”. Revista Isis Internacional, Santiago, v. 9, p. 133-141, 1988.

GONZALEZ, Lélia. “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. In: SILVA, L. A. et al. Movimentos sociais urbanos, minorias e outros estudos. Ciências Sociais Hoje, Brasília, ANPOCS n. 2, p. 223-244, 1983.

GRAMSCI, Antonio; COUTINHO, Carlos Nelson. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

HAUGEN, Einar. Language Planning in Modern Norway. In: Fishman, Joshua A (ed.). Readings in the Sociology of Languages. Paris: Mouton de Gruyter, 1968[1959], p. 673-687.

HILL, Jane. Mock Spanish: A site for the indexical reproduction of racism in American English. Race, ethnicity, and gender: Selected readings, p. 270-284, 2007.

HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.

JORDAO, Clarissa Menezes. Southern epistemologies, decolonization, English as a Lingua Franca: ingredients to an effective Applied Linguistics potion (Contributions of an ELF perspective to the future of Applied Linguistics across the globe). Waseda working papers in ELF, v. 8, p. 33-52, 2019.

MATEUS, Maria Helena Mira. Se a língua é um factor de identificação cultural, como se compreende que a mesma língua identifique culturas diferentes? In Rev. de Letras - Nº. 25 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2003.

MBEMBE, Achille. A Crítica da Razão Negra. Portugal: Antígona, 2014.

MOORE, Carlos W. Racismo & sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. Mazza, 2007.

MOREIRA, Adilson. Racismo recreativo. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.

NASCIMENTO, Gabriel. Racismo Linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. Editora Letramento, 2019.

OLIVEIRA, F. Gramática da linguagem portuguesa. 2. ed. Lisboa: Biblioteca Nacional, [1536]1988.

OLIVEIRA, G. M. Política Lingüística, Política Historiográfica = Epistemologia e escrita da História da(s) Língua(s) a propósito da língua portuguesa no Brasil Meridional (1754 – 1830) (Tese de Doutorado em Linguística Aplicada, Universidade Estadual de Campinas, Campinas). Recuperado de http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000373002, 2004.

OLIVEIRA, Klebson. Textos escritos por africanos e afro-descendentes na Bahia do século XIX: fontes do nosso ‘latim vulgar’?. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2003.

OLIVEIRA, Klebson. Negros e escrita no Brasil do século XIX: sócio-história, edição filológica de documentos e estudos lingüísticos. Tese de Doutorado. Universidade Federal da Bahia, Salvador. 3 v, 2006.

ORLANDI, Eni Puccinelli. O que é linguística. Brasiliense, 2007.

PETTER, Margarida. Linguagem, língua, linguística. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística. São Paulo: Editora Contexto. p. 11-23, 2005.

PRABHU, Nagore S. There is no best method—Why?. Tesol quarterly, v. 24, n. 2, p. 161-176, 1990.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad y modernidad/racionalidad. Perú indígena, v. 13, n. 29, p. 11-20, 1992.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade, poder, globalização e democracia. Novos rumos, v. 37, n. 17, p. 4-28, 2002.

QUIJANO, Aníbal. Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina. Estudos avançados, v. 19, n. 55, p. 9-31, 2005.

QUIJANO, Aníbal. Modernidad, identidad y utopía en América Latina. Lima: Sociedad y Política Ediciones, 1988.

RASHIDI, Runoko. Introduction to the study of African clasical [sic] civilizations. Karnak House, 1992.

RODRIGUES, Aryon D. Tarefas da lingüística no Brasil. Estudos lingüísticos, v. 1, n. 1, 1967.

ROSA, Jonathan. Racializing language, regimenting Latinas/os: Chronotope, social tense, and American raciolinguistic futures. Language & Communication, v. 46, p. 106-117, 2016.

ROSA, Jonathan; FLORES, Nelson. Unsettling race and language: Toward a raciolinguistic perspective. Language in society, v. 46, n. 5, p. 621-647, 2017.

SARTRE, Jean-Paul. Saint Genet: comédien et martyr. Éditions Gallimard, 1952.

SHOHAMY, E. Language policy: hidden agendas and new approaches. Londres/Nova Iorque, NI: Routledge, 2006.

SOARES, M. Linguagem e escola: Uma perspectiva Social. 17. ed., 2. impr., São Paulo, SP: Ática, 2000.

SOARES, Magda B. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1986.

SOUZA NETO, Mauricio. Navegando nos mares da proficiência em português como língua não materna. Pedro e João Editores, São Paulo, 2020.

SOUZA, A. L. S. Letramentos de reexistência: culturas e identidades no movimento hip-hop. 2009. 219f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas - SP, 2009.

SPOLSKY, Bernard. Language policy. Cambridge University Press, 2004.

TEYSSIER, Paul. História da língua portuguesa. Tradução de Celso Cunha. São Paulo: Martins Fontes Editora, 2007 [1997].

VAN SERTIMA, Ivan; RASHIDI, Runoko. African presence in early Asia. Transaction Publishers, 1985.

WALSH, Catherine. Interculturalidad y (de) colonialidad: Perspectivas críticas y políticas. Visão Global, v. 15, n. 1-2, p. 61-74, 2012.

WALSH, Catherine. Interculturalidade crítica e pedagogia decolonial: in-surgir, re-existir e re-viver. Educação intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro, v. 7, p. 12-43, 2009.

WEINSTEIN, Brian. Language planning in francophone Africa. In. Language problems and language planning, v. 4, n. 1, p. 55-77, 1980.

Downloads

Publicado

2021-08-23