Entre o lembrar e o esquecer: reflexões sobre a memória e o esquecimento a partir de Nietzsche e Bergson
DOI:
https://doi.org/10.31977/grirfi.v22i1.2762Palavras-chave:
Memória; Esquecimento; Corpo.Resumo
Esse trabalho tem como objetivo pôr em evidência o jogo contínuo e a relação paradoxal que se estabelece entre a memória e o esquecimento a partir das contribuições de Friedrich Nietzsche e Henri Bergson. Seguiremos a hipótese de que a origem da memória e da consciência em Nietzsche em muito se aproxima daquela feita por Bergson em Matéria e Memória. Tentarei expor como a memória em Bergson surge no intervalo entra a ação e a reação, no momento em que o homem hesita, organiza e seleciona o movimento novo. O mesmo movimento de hesitação acontece em Nietzsche, quando o homem abandona o reino “animalesco” do instante e passa a calcular e planejar os seus atos. Nesse interim em que o homem adquire a capacidade memorativa e se distancia dos animais instintivos, o esquecimento passa a ter uma importância vital, segundo Nietzsche, visto que um excesso de memória pode ressentir e entristecer o corpo. Já em Bergson, o mecanismo cerebral - um órgão de atenção à vida - também ocupa um lugar de destaque, a partir do momento em que afasta temporariamente a totalidade das lembranças (não úteis), e permite que apenas algumas delas se tornem conscientes (as úteis). Para tanto, observaremos que o que está por trás desse jogo infinito entre a memória e o esquecimento é a manutenção de um corpo saudável que não se perca nos excessos - de lembrar demais ou esquecer de tudo. Um corpo que saiba lembrar, mas também esquecer para conseguir viver.
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