Entre Mbembe e Vergès: demolir o museu como necessidade decolonial
DOI:
https://doi.org/10.31977/grirfi.v25i3.5363Palavras-chave:
Museu universal; Colonização; Desordem absoluta; Decolonialidade.Resumo
Este ensaio propõe uma crítica radical ao museu enquanto instituição simbólica da colonialidade moderna, evidenciando sua função histórica como vitrine do saque, da racialização e do apagamento de memórias e modos de vida. Longe de constituir um espaço neutro ou de preservação imparcial do passado, o museu universal é analisado como um dispositivo central na legitimação da dominação colonial, articulado às dinâmicas do capitalismo racial e ao pacto narcísico da branquitude. A partir das contribuições teóricas de Françoise Vergès e Achille Mbembe — em articulação com autores como Fanon, Césaire, Cida Bento e Nêgo Bispo —, o texto examina os mecanismos de expropriação simbólica e material que sustentam o poder museológico. Analisa-se, também, o modo como a apropriação e a exibição de expressões coletivas dos povos subalternizados operam o silenciamento de suas histórias e cosmologias. O artigo explora, ainda, as proposições do antimuseu e do pós-museu como horizontes ético-políticos de ruptura com essa lógica, propondo a desordem absoluta como condição para reimaginar a memória, a justiça e a própria estrutura do sensível. Restituir, nesse contexto, não significa apenas devolver objetos, mas reconstruir mundos e romper com as fundações coloniais que sustentam as formas hegemônicas de ver, narrar e organizar a vida.
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