Quando devemos silenciar outras pessoas: a dimensão positiva do silenciamento epistêmico
DOI:
https://doi.org/10.31977/grirfi.v22i1.2619Palavras-chave:
Silenciamento; Injustiças Epistêmicas; Dignidade da Pessoa Humana; Phronesis.Resumo
Neste artigo, analisamos a dimensão positiva dos silenciamentos para as práticas epistêmicas. Uma vez que: (a) o silenciamento refere-se a um impedimento comunicativo; e (b) ao menos parte de nossa agência epistêmica depende desta capacidade para que nos expressemos e nos façamos entender, caberia concluir que (c) os silenciamentos, necessariamente, prejudicam as nossas interações epistêmicas. Contudo, Barrett Emerick (2019) nos lembra que, em certos casos, o silenciamento ajuda a preservar a integridade e dignidade daqueles que têm sua agência epistêmica violada. Baseados neste insight inicial, elencamos três premissas que culminaram na justificativa para silenciarmos outras pessoas: (1) silêncios epistêmicos decorrem de processos sócio-históricos e das relações de poder que os permeiam; (2) os limites das agências epistêmicas são estabelecidos por meio de normas e convenções sociais que afetam de diferentes maneiras as identidades; e, (3) a dignidade da pessoa humana deve ser o critério para estabelecer os limites entre o que deve ou não ser dito. Considerando que para agirmos da maneira correta não precisamos apenas de justificativas, mas também saber o momento adequado de agir, defendemos que a concepção aristotélica de virtude da sensatez (phronesis) fará com que saibamos quando devemos silenciar outras pessoas.
Downloads
Referências
AIKIN, Scott; CLANTON, Calleb. Developing Group-Deliberative. Virtues Journal of Applied Philosophy, v.27, n.4, p.409-424, 2010.
ALCOFF, Linda. Epistemologies of Ignorance: Three Types. In: SULLIVAN, Shannon; TUANA, Nancy. Race and Epistemologies of Ignorance. New York: State University of New York Press, 2007. p.39-57.
ARON, Nina. Groping in the Ivy League led to the first sexual harassment suit—and nothing happened to the man. 2017. Disponível em: < https://timeline.com/carmita-wood-sexualharrassment-f2c537a0e1e8 >, Acesso em: 30 Ago 2021.
ANDERSON, Elizabeth. Epistemic justice as a virtue of social institutions. Social Epistemology, v. 26, n. 2, p. 163-173, 2012.
ANGIONI, Lucas, Phronesis e Virtude do Caráter em Aristóteles: Comentários a Ética a Nicômaco VI. Dissertatio, v.34, p.303–345, 2011.
AUSTIN, John. Quando dizer é fazer [1962]. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
CATALA, Amandine. Democracy, trust and epistemic justice. The Monist, v. 98, n. 4, p. 424–440, 2015.
CASTORIADIS, Cornelius. The Imaginary as Such. In: ADAM, Suzi; SMITH Jeremy. Social Imaginaries. Bucharest: ZetaBooks, 2015. p. 53-58.
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento Feminista Negro. São Paulo: Editora Boi Tempo, 2019.
CORTINA, Adela. Aporofobia: A Aversão ao Pobre um Desafio a Democracia. São Paulo: Editora Contracorrente, 2020.
DOTSON, Kristie. Tracking Epistemic Violence, Tracking Pratices of Silencig. Hypatia, v.26, n.2, p. 236-257, 2011.
DOTSON, Kristie. Conceptualizing Epistemic Oppression, Social Epistemology, v. 28, n. 2, p. 115-138, 2014.
EMERICK, Barret. The Violence of Silencing. In: KLING, Jennifer. Pacifism, Politics, and Feminism: Intersections and Innovations. Leiden: Brill, 2019. P. 28-50.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Editora Paz&Terra, 2020.
FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing. Oxford: Oxford University Press, 2007.
GOLDBERG, Sanford. Arrogance, Silence, and Silencing. Aristotelian Society Suppementary, v.90, n.1, p.93-112, 2016.
GOLDBERG, Sanford. What we owe each other, epistemically speaking: ethico-political value in social epistemology. Synthese, v. 197, n. 10, p. 4407-4423, 2018.
HORNSBY, Jennifer. Free speech and hate speech: language and rights. In: EGIDI, Rosaria; DELL'UTRI, Massimo; DE CARO, Mario. Normativit Fatti Valori. Macerata: Quodlibet, 2003. p. 297-310.
KANT, Immanuel. Metafísica dos Costumes. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.
LANGTON, Rae. Speech acts and unspeakable acts. Philosophy and Public Affairs, v. 22, n. 4, p. 293-330, 1993.
MEDINA, José. The meanings of silence: wittgensteinian contextualism and polyphony. Inquiry, v. 47, n. 6, p. 562-579, 2004.
MEDINA, José. The Relevance of Credibility Excess in a Proportional View of Epistemic Injustice: Differential Epistemic Authority and the Social Imaginary. Social Epistemology: A Journal of Knowledge, Culture and Policy, v.25, n.1, p.15-35, 2011.
MEDINA, José. The Epistemology of Resistance: Gender and Racial Oppression, Epistemic Injustice, and Resistant Imaginations. Oxford: Oxford University Press, 2013.
MEDINA, José. On Refusing to Believe: Insensitivity and Self-Ignorance. In: ARISO, José María; WAGNER, Astrid. Rationality Reconsidered: Ortega y Gasset and Wittgenstein on Knowledge, Belief, and Practice. Berlin: De Gruyter, 2016. p. 187-200.
MEDINA, José. Racial Violence, Emotional Friction, And Epistemic Activism. Angelaki, n.24, v.4, p.22-37, 2019.
POHLHAUS, Gaile. Relational Knowing and Epistemic Injustice: Toward a Theory of Willful Hermeneutical Ignorance. Hypatia, v. 27, n. 4, p. 715-735, 2012.
RUSSELL, Aidan. Regimes of silence. In: RUSSEL, Aidan. Truth, Silence, and Violence in Emerging States: Histories of Unspoken. London: Routledge, 2019. p.1-25.
SANDEL, Michael. A Tirania do Mérito: O que aconteceu com o bem comum?. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021.
TANESINI, Alessandra. “Calm Down, Dear”: intellectual arrogance, silencing and ignorance. Arostotelian Society Suppementary, v.90, n.1, p.71-92, 2016.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Rodrigo Gottschalk Sukerman Barreto

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores que publicam na Griot : Revista de Filosofia mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution 4.0 International License, permitindo compartilhamento e adaptação, mesmo para fins comerciais, com o devido reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista. Leia mais...