Língua e linguagem como máquinas de tear
retecendo lágrimas, rasgos e risos nas memórias de subjetividades gays
Resumo
Este artigo reflete sobre a interseção entre identidades gays, língua e instituição de ensino, com ênfase na influência da cisheteronormatividade sobre as subjetividades dissidentes em perspectiva escolar e familiar. Utilizando narrativas memorialísticas, atravessadas por reflexões teóricas em estudos da língua, o texto analisa o papel da escola e da família como um Aparelho Ideológico de Estado que reproduz normas excludentes e reforça o silenciamento das identidades cuir. Assim, a língua, entendida como performativa, emerge como instrumento tanto de opressão quanto de resistência, onde o silêncio/mascaramento identitário é também entendido como uma estratégia auto protetiva, corporal e discursiva. A análise explora como a interação entre corpo e língua molda as vivências escolares e familiares de subjetividades gays, frequentemente instadas a adaptar suas performances identitárias para se proteger em um ambiente que as marginaliza. Desse modo, o artigo discorre sobre a importância da ressignificação da relação entre corpo, identidade e língua, defendendo a necessidade de reflexões que rompam com as normativas de exclusão e promovam o reconhecimento das identidades dissidentes como expressões subjetivas de pleno direito.
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