Marielle Franco, mulheres negras e a democracia no Brasil:
breves apontamentos sobre as disputas às gramáticas políticas
Resumo
O assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (1979 - 2018) se organiza na história recente da democracia brasileira como um dos grandes achincalhes sofridos pela representação política oriunda dos segmentos populares, das comunidades negras, e das coalizações protagonizadas por mulheres negras. A posterior lentidão para resolução do caso revela mais uma camada das prerrogativas que sistematizam as prioridades do Estado brasileiro. Somado a isso, a ascensão da fase política desde a eleição de Jair Messias Bolsonaro e seus aliados(as) tem colocado a sociedade brasileira e os seus direitos conquistados em situações de dilemas e violações. Esse conjunto de ações e fatos tem imposto uma configuração que exige pensar quais são as possibilidades diante dos desafios e enfrentamentos que se sobressaem, especialmente, para as mulheres negras na dimensão da política. Busquei pensar como Marielle Franco e seu violento assassinato funcionam aqui, como um ícone representativo sobre a desidratação do processo de garantias de direitos políticos e, por isso, do processo democrático. Ao passo que esse mesmo fato se tornou também uma força emblemática para as discussões sobre as nossas disputas acerca das gramáticas políticas que orientam as relações entre sociedade, estado e representantes eleitas(os). Preferencialmente, penso que as outras gramáticas políticas que o Brasil tenha sido tensionado a pensar são frutos das articulações promovidas pelas mulheres negras e suas muitas estratégias de incidência política realizadas nas arenas dos poderes. Revelando, portanto, que tipo de democracia tem sido experimentada e disputada por esses grupos de mulheres atualmente.
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Referências
REFERÊNCIAS
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- 2025-07-01 (2)
- 2025-06-30 (1)
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