Epidemia da insônia

Kopenawa e a equivocidade do esquecimento

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.31977/grirfi.v21i2.2310

Palabras clave:

Antropoceno, Memoria, Perspectivismo, Peste, Politica, Yanomami

Resumen

Friedrich Nietzsche dizia que a transcendência e a negação da vida, próprias do niilismo reativo que caracteriza a autofagia do Ocidente, eram subprodutos do excesso de memória, plasmado em ressentimento e “espírito de vingança”. Por outro lado, o xamã yanomami Davi Kopenawa, liderança indígena e autor, junto ao antropólogo Bruce Albert, do livro A queda do céu, responsabiliza o esquecimento dos brancos (napë pë) por sua própria derrocada — derrocada que leva todos os povos não-brancos consigo, em um vertiginoso cataclisma ambiental e pandêmico de dimensões planetárias que Kopenawa e os Yanomami chamam de “queda do céu”. Neste artigo, pretendemos lidar com essa equivocidade perspectiva do olvido, vislumbrando nela uma questão filosófica crucial: como compreender esse duplo cruzamento entre olvido e memória, quando saímos do discurso filosófico ocidental e partimos para o discurso de um pensador yanomami? Haveria em jogo, aqui, uma equivocidade do olvido, no sentido em que o esquecimento é outro, a depender de sua direção?

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Biografía del autor/a

Maurício Fernando Pitta, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Doutorando em Filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba – PR, Brasil.

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Publicado

2021-06-02

Cómo citar

PITTA, Maurício Fernando. Epidemia da insônia: Kopenawa e a equivocidade do esquecimento. Griot : Revista de Filosofia, [S. l.], v. 21, n. 2, p. 199–220, 2021. DOI: 10.31977/grirfi.v21i2.2310. Disponível em: https://periodicos.ufrb.edu.br/index.php/griot/article/view/2310. Acesso em: 4 dic. 2024.

Número

Sección

artículos