O conceito de outrem

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31977/grirfi.v21i2.2298

Palavras-chave:

Robinson Crusoé; Ser-no-mundo; Fora; Neurose; Psicose; Perversão.

Resumo

Este artigo combina a extraordinária análise por parte de Deleuze de Sexta-feira ou os Limbos do Pacífico, de Michel Tournier, que apresenta um Robinson Crusoé duplo, perverso, em relação ao de Daniel Defoe, com uma análise crítica de concepções como a de ser-no-mundo, resultantes da hermenêutica fenomenológica de Heidegger. O meu ponto é que sem outrem [Autrui], ou o que Deleuze chama a estrutura-outrem [structure Autrui], não é possível ‘interpretar' ser-no-mundo, que, por outras palavras, o que se descompreende sem esta estrutura é justamente uma compreensão pré-ontológica do ser, não se atingindo a facticidade do ser precisamente por se viver, se sofrer, sem outrem, um processo inverso, o de uma ‘desfactização' do próprio fato ou facticidade do ser.  Proponho, portanto, uma nova concepção do limite de ser-no-mundo não em termos da morte mas de outrem, do que é perder outrem, a estrutura-outrem, e como esta perda implica a perda de ser-no-mundo, a possibilidade ela mesma de interpretar, de compreender, as suas diferentes estruturas (ser-aí, ser-com, ser-para-a-morte, etc.) O conceito de outrem funciona assim como uma gigante dobra entre ser-no-mundo e o seu avesso ou o que Artaud definiu como ‘o outro lado da existência’, mas também entre a ausência de outrem e a criação de ‘mundos sem outrem', todos eles ‘menores', ‘ilhas desertas', 'plateaus', constituídos na imanência desta ausência, do próprio ‘fora'.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Filipe Ferreira, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Doutor em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa (UNL), Lisboa - Portugal. Pesquisador pós-doutoral na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo – SP, Brasil. O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Referências

ARTAUD, Antonin. Oeuvres. Paris: Gallimard, 2004.

DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. Tradução de Antonio Carlos Piquet e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. Tradução de Luiz Salinas Fortes. São Paulo: Perspectiva, 2006.

DELEUZE, Gilles. “Descrição da mulher. Por uma filosofia de outrem sexuada”. Tradução de Juliana Oliva e Sandro K. Fornazari. Limiar, vol. 2, 4, 2016, p.168-77.

DELEUZE, Gilles. Cinema 1. A imagem-movimento. Tradução de Stella Senra. São Paulo: Editora 34, 2018.

DELEUZE-GUATTARI. O que é a filosofia? Tradução de Bento Prado Júnior e Alberto Alonso Muñoz. São Paulo: Editora 34, 1997.

DELEUZE-GUATTARI. O anti-Édipo. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2010.

DELEUZE-GUATTARI. Mil platôs (vol.3). Tradução de Aurélio Guerra Neto, Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão e Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 2012.

HEIDEGGER, Martin. Ontologia. Hermenêutica da facticidade. Tradução de Renato Kirchner. Petrópolis: Vozes, 1995.

HEIDEGGER, Martin. Os conceitos fundamentais da metafísica. Mundo, finitude, solidão. Tradução de Marcos Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução de Fausto Castilho. Campinas: Editora Unicamp, 2012.

TOURNIER, Michel. Sexta-feira ou os limbos do Pacífico. Tradução de Fernanda Botelho. Rio de Janeiro: BestBolso, 2014.

Downloads

Publicado

2021-06-02

Como Citar

FERREIRA, Filipe. O conceito de outrem. Griot : Revista de Filosofia, [S. l.], v. 21, n. 2, p. 466–480, 2021. DOI: 10.31977/grirfi.v21i2.2298. Disponível em: https://periodicos.ufrb.edu.br/index.php/griot/article/view/2298. Acesso em: 4 dez. 2024.

Edição

Seção

Artigos