RECORDAÇÕES DE BERND BALDUS SOBRE FLORESTAN FERNANDES

Autores

  • Bernd Baldus Universidade de Toronto (Canadá)

Resumo

Conheci Florestan Fernandes pouco depois de chegar à Universidade de Toronto em 1969, ainda como um modesto e muito jovem professor assistente. Tinha acabado de obter meu doutorado na Alemanha, tendo antes passado um ano e meio na Universidade da Califórnia em Los Angeles e outro ano na África Ocidental realizando pesquisas para minha tese. O final da década de 1960 foram anos de muito ativismo político, nos EUA contra a guerra do Vietnã e na Alemanha contra o que era sentido como sendo estruturas acadêmicas e políticas esclerosadas e opressivas. Como muitos estudantes, eu me envolvi nesses protestos. Quando Florestan e eu chegamos em Toronto, o Departamento de Sociologia ainda era presidido por um diretor benevolamente autoritário, mas a contratação de muitos jovens membros do corpo docente da faculdade logo mudou a situação. Embora Florestan fosse muito mais velho do que nós, sua reputação acadêmica e sua perspectiva marxista logo fizeram dele uma figura paternal para um grupo de jovens docentes. Ao mesmo tempo, ele também permaneceu um pouco como uma espécie de outsider. Isso se deveu em parte ao fato de que os protestos universitários no Canadá tinham seus próprios objetivos, muitas vezes divergentes. Para alguns dos mais jovens docentes, especialmente os nascidos no Canadá, o foco era o nacionalismo canadense dirigido contra a dominação econômica americana, e especialmente contra a frequente contratação de professores estadunidenses. Para outros, a prioridade era a guerra do Vietnã. Ambos os lados se uniram para lutar contra uma administração universitária autoritária. Frantz Fanon era popular, mas as lutas internas das universidades ofuscaram os problemas mais distantes da América Latina ou da África. As amplas perspectivas teóricas de Florestan não se enquadravam nesses conflitos, muitas vezes desagradáveis e pessoais. Suas posições marxistas não foram rejeitadas, mas a qualidade de seu conhecimento e suas inúmeras publicações não receberam o reconhecimento que mereciam. Sempre educado e sentindo-se como um convidado estrangeiro, ele ministrou alguns cursos sobre sociedades latino-americanas, mas manteve-se afastado das batalhas internas do departamento.

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Publicado

2020-11-29