Os enxertos hermenêuticos de Paul Ricœur
DOI:
https://doi.org/10.31977/grirfi.v24i2.4765Palavras-chave:
Enxerto hermenêutico; Historiografia e Literatura; Identidade pessoal; Memória; Paul Ricœur.Resumo
Este trabalho identifica um elemento recorrente no pensamento de Paul Ricœur, a saber, o de realizar um enxerto hermenêutico em áreas de conhecimento especializadas que se ocupam de determinados problemas filosóficos, que será demonstrado nos seguintes tópicos, onde serão apresentados: i) a investigação fenomenológica sobre o acesso privilegiado ao cogito, em O conflito das interpretações — Ensaios de hermenêutica; ii) os problemas epistemológicos e ontológicos do acesso ao passado histórico, bem como a relação entre historiografia e literatura ficcional, em Tempo e narrativa; iii) a questão da identidade pessoal na tradição analítica da filosofia da linguagem, em O si-mesmo como um outro; iv) e, finalmente, os limites das abordagens naturalistas das neurociências e ciências cognitivas sobre a memória em A memória, a história, o esquecimento e em O que nos faz pensar: a natureza e a regra. O filósofo, na obra O conflito das interpretações, afirma abertamente promover um enxerto do problema hermenêutico no método fenomenológico em sua investigação sobre a compreensão de si a partir do conflito entre as interpretações rivais acerca do cogito. Jean Greisch, por sua vez, sugere a existência de um enxerto não assumido por Ricœur da hermenêutica na filosofia da linguagem em O si-mesmo como um outro. Nesse mesmo caminho, este trabalho oferece como novidade o encontro de outros dois enxertos hermenêuticos tácitos na obra de Ricœur, a saber, o enxerto hermenêutico na fenomenologia do tempo em Tempo e narrativa e no tratamento naturalizado da memória pelas neurociências em A memória, a história, o esquecimento e em O que nos faz pensar: A natureza e a regra.
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