Direitos indígenas no Brasil: uma reconstituição filosófica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31977/grirfi.v23i2.3278

Palavras-chave:

Filosofia; Povos Indígenas; Direito; História.

Resumo

Este artigo propõe um levantamento do contato entre o pensamento europeu e os povos ameríndios, com ênfase na genealogia dos conceitos filosóficos que vieram a embasar as posições teológicas e as normas jurídicas responsáveis por regular, ao menos em teoria, as práticas históricas para a dinâmica de invasão e conquista dessas terras baixas da América do Sul. Pois, entendemos que nesta trilha encontraremos os fundamentos da dialética entre os direitos indígenas e as regulamentações do Estado nacional, de onde surgem as tensões relativas às reivindicações dos povos ameríndios pelo direito à proteção e uso exclusivo de seus territórios originários. Iniciamos, então, esse percurso, com o momento inaugural da discussão moderna sobre a pauta dos direitos humanos, a partir do debate relativo ao reconhecimento ou não da humanidade dos povos indígenas no século XVI – presente nas formulações do direito dos povos por Frei Francisco de Vitória; passando pelo importante episódio conhecido como Controvérsia de Valladolid, entre Sepúlveda e Las Casas; percorrendo posteriormente o período colonial, império, primeira e segunda repúblicas, sempre com especial atenção para os conceitos filosóficos que sustentaram as práticas de exploração, usurpação, proteção e controle ao longo deste percurso; até chegar nos ideais de autonomia e autodeterminação presentes na Constituição de 1988. Finalizando esta exposição com a discussão sobre os desafios atuais para sua manutenção e aperfeiçoamento.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gustavo Fontes, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Doutor(a ) em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba – PR, Brasil.  

Referências

ARISTÓTELES. A Política. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

ALMEIDA, Mauro W. B. Caipora e outros conflitos ontológicos. Revista de Antropologia da UFSCar, v.5, n.1, jan.-jun., p.7-28, 2013.

AQUINO. Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Correia. Disponível em: https://sumateologica.files.wordpress.com/2017/04/suma-teolc3b3gica.pdf

BENJAMIN, Walter. O Anjo da História. Ed. Autêntica. Belo Horizonte. 2013.

CANTARELLI, Margarida. A doutrina colonial para o novo mundo: Francisco de Vitória – um Decênviro do Direito Internacional. Revista Acadêmica, v2 anos 2001/2002 – Recife: UFPE. Aurélio Boa Viagem (org) Editora Universitária da UFPE, p. 49 y ss. In: Cantarelli, Margarida. Poder, Politica y Derechos Humanos, ESPINA BARRIO, Ángel B (org). Poder, Politica y Cultura: Antropología en Castilla y León e Iberoamérica VII. Recife: Ed Massangana, 2005.

CAPIBERIBE, Artionka; BONILLA, Oiara. A ocupação do Congresso: Contra o quê os índios lutam. Revista Estudos Avançados [online]. V.29 (n.83). pp. 293-313. 2015.

CAPÌTULO DOS ÌNDIOS, Art. 231 e 232 da Constituição Federal, com comentários. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/constituicao-supremo/artigo.asp?abrirBase=CF&abrirArtigo=231

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Os direitos do índio. Ed. Brasiliense. São Paulo. 1987.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. História dos índios no Brasil. (Org.). Ed. Cia. das Letras/FAPESP. São Paulo. 1998.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Palestra/Depoimento; In Os Índios na Constituição. Dias, C. Loureiro; Capiberibe, Artionka (Orgs.) pp. 35-54. Ed. Ateliê Editoria. Cotia/SP. 2019.

CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. Ed Cosac & Naif. São Paulo. 2013.

CLASTRES, Pierre. Liberdade, Mau Encontro, Inominável. In. Discurso da Servidão Voluntária. Tradução de Laymert Garcia dos Santos. Ed. Brasiliense. São Paulo. 1999.

CLASTRES, Pierre. Arqueologia da violência. Ed. Cosac & Naif. São Paulo. 2004.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

DALLARI, Dalmo. Palestra/Depoimento, In Os índios na Constituição. Loureiro Dias, Camila; Capiberibe, Artionka (Orgs.). Ed. Ateliê. Cotia, São Paulo. 2019.

DA SILVA JUNIOR, Airton Ribeiro. Representações dos Povos Indígenas em Francisco de Vitória e as Origens Etnocêntricas do Direito Internacional Moderno. Revista Sequência [online]. n.80, pp.151-178. Florianópolis. 2018.

DA SILVA, Marcio Antônio Both. Lei de Terras de 1850: lições sobre os efeitos e os resultados de não se condenar “uma quinta parte da atual população agrícola”. Revista Brasileira de História, vol. 35, no 70. pp. 87-107. 2015.

DUSSEL, Enrique. 1492: El encubrimiento del outro. Ed. Plural. La Paz. 1994.

DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo. En libro: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. (pp.55-70) Perspectivas latino-americanas. Edgardo Lander (org). Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. setembro 2005.

ELOY TERENA, Luiz Henrique. Palestra/Depoimento, in Os Índios na Constituição. Dias, C. Loureiro; Capiberibe, Artionka (Orgs.) pp. 103-116. Ed. Ateliê Editoria. Cotia/SP. 2019.

Estatuto do Índio. Lei 6.001 de 19 de dezembro de 1973. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6001.htm

GUTIÉRREZ, J. L. A controvérsia de Valladolid (1550): Aristóteles, os índios e a guerra justa. REVISTA USP. n. 101. P. 223-235 • março/abri l/maio. São Paulo. 2014.

KEHL, Maria Rita. Relatório da final da Comissão Nacional da Verdade. Texto 5. Violações dos Direitos Humanos dos povos indígenas. Brasília – DF. 2014.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A Queda do Céu: palavras de um xamã yanomami. Ed. Companhia das Letras. São Paulo. 2015.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. Ed. Companhia das Letras. São Paulo. 2019.

KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. Ed. Companhia das Letras. São Paulo. 2020.

KRENAK, Ailton. Textos e Entrevistas. Col. Encontros. Ed. Azougue. Rio de Janeiro. 2015.

KRENAK, Ailton. O Eterno Retorno do Encontro. In, A outra margem do Ocidente. Org. Adauto Novais. Ed. Companhia das Letras. São Paulo. 1999.

KRENAK, Ailton. Compartilhar a memória. In, Os índios na Constituição. Loureiro Dias, Camila; Capiberibe, Artionka (Orgs.) pp. 17-34. Ed. Ateliê. Cotia, São Paulo. 2019.

LAS CASAS, Bartolomeu. Apología o Declaración y Defensa Universal de los Derechos del Hombre y de los Pueblos. Traducción castellana de los textos originales latinos, introducción, notas y índices por Angel Losada. Madrid, Editora Nacional, 1975.

LAS CASAS, Bartolomeu. O Paraíso Destruído: Brevíssima Relação da Destruição das Índias. Trad: Herdaldo Barbuy. Porto Alegre: L&PM Editores, 1996.

Manual de Jurisprudência dos Direitos Indígenas. Ministério Público Federal (MPF), Brasília/DF. 2019. Disponível em: http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr6/documentos-e-publicacoes/manual-de-atuacao/manual-de-jurisprudencia-dos-direitos-indigenas.pdf

MARÈS, Carlos. Os povos indígenas e o direito brasileiro. In, Os direitos dos povos indígenas no Brasil: desafios no século XXI. Carlos Frederico Marés de Souza Filho e Raul Cezar Bergol (Orgs.) – Ed. Letra da Lei. Curitiba. 2013.

PERRONE-MOISÈS, Beatriz. Índios livres e índios escravos: os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos. XIV a XVIII). (p. 115-132). In, História dos índios do Brasil. Ed. Cia das Letras/FAPESP. São Paulo. 1998.

QUIJANO, Aníbal. Dom Quijote e os moinhos de vento na América Latina. Ed. HucitecFapesp. São PauloSP. 2009.

RIBEIRO, Darcy. As Américas e a Civilização: Estudo de Antropologia da civilização. Ed. Vozes. Rio de Janeiro. 1977.

Rocha, Deyvisson F. P. Um panorama da autodemarcação de Terras Indígenas no Brasil. Revista SURES. N. 9 (pp. 132-144). 2017.

SABÓIA, José Carlos. Palestra/Depoimento, In, Os índios na Constituição. Loureiro Dias, Camila; Capiberibe, Artionka (Orgs.) [pp. 55-74]. Ed. Ateliê. Cotia, São Paulo. 2019.

SEPÚLVEDA, Juan Ginés. Obras Completas III. Demócrates Segundo. Trad. A. Coroleu. Ed. Ayuntamiento de Pozoblanco. 1997.

VITÓRIA, Francisco de. Os índios e o direito da guerra: de indis et de jure belli relectiones. Ijuí: Unijuí, 2006.

VITÓRIA, Francisco de. Relectio de Indis. Edição crítica bilíngue. Editada por L. Pereña e J. M. Perez Prendes, com estudos introdutorios de V. Beltran de Heredia, R. Agostino Lannarone, T. Urdanoz, A. Truyol e L. Pereña, numa edição do Consejo Superior de Investigaciones Científicas, volume 5 do Corpus Hispanorum de Pace. Madrid, 1967.

VIVEIROS CASTRO. E. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. Sao Paulo: Cosac & Naify. 2002.

Downloads

Publicado

2023-06-18

Como Citar

FONTES, Gustavo. Direitos indígenas no Brasil: uma reconstituição filosófica. Griot : Revista de Filosofia, [S. l.], v. 23, n. 2, p. 171–194, 2023. DOI: 10.31977/grirfi.v23i2.3278. Disponível em: https://periodicos.ufrb.edu.br/index.php/griot/article/view/3278. Acesso em: 19 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigos