Sobre a clivagem antropocêntrico/ecocêntrico na filosofia ambiental

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31977/grirfi.v23i2.3273

Palavras-chave:

Ecofilosofia; Ética ambiental; Ecocentrismo; Antropocentrismo fraco; Pragmatismo ambiental.

Resumo

A filosofia ambiental surge na década de 1970 movida pelo ímpeto de reflexão sobre a iminência de uma crise ecológica e suas causas mais profundas. E a questão central que motivou os trabalhos pioneiros neste campo foi a crítica ao centramento humano em termos de valor moral, isto é, a assunção de que o homo sapiens constitui o único locus de valor frente às demais espécies e à natureza mais que humana como um todo. A demanda por uma nova ética, de caráter ambiental, nasce precisamente do desafio ao antropocentrismo predominante na tradição filosófica ocidental, à luz das ideias de continuidade e interdependência do humano em relação ao mundo mais que humano, sugeridas pelos princípios da ciência ecológica. Tal proposta, entretanto, suscitou um interessante debate acerca da viabilidade e implicações de posturas senciocêntricas, biocêntricas e ecocêntricas, como forma de fundamentar o valor intrínseco para além da esfera da agência moral. A chamada clivagem antropocêntrico-ecocêntrico demarca precisamente os polos deste debate, que marcou os primeiros passos da filosofia ambiental e se estendeu à ecologia política. Apesar de algumas tentativas de retratar posturas não antropocêntricas como um dogma a ser superado na evolução da pesquisa em ética ambiental, este artigo procura argumentar que a questão permanece em aberto, sobretudo a partir de uma recente retomada das críticas ao antropocentrismo por um grupo de autoras e autores ligados às ciências ambientais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Dante Carvalho Targa, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Doutorando(a) em Filosofia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC, Brasil. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Brasil. Código de Financiamento 001.

Referências

BERGER, J. The endangered phenomenon of animal migration, and the dissonance between doing science and achieving conservation. The Ecological Citizen, v. 3, suppl. A, p. 79–85, 2019.

BÍBLIA. Gênesis. In: A Bíblia Sagrada - Velho e Novo Testamentos. Trad. João Ferreira De Almeida. 2 ed. Brasília: SSB, 2014.

BODASING, T. Born free or life behind bars: The subtleties of African large carnivore conservation. The Ecological Citizen, v. 4, n. 2, p. 143–148, 2021.

BRUNTLAND, ET AL. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991.

CALLICOTT, J. B. John Passmore. Man’s Responsibility for Nature: Ecological Problems and Western Traditions. Isis, v. 67, n. 2, p. 294–295, 1976.

CALLICOTT, J. B. Non-anthropocentric value theory and Environmental Ethics. American Philosophical Quarterly, v. 21, n. 4, p. 299–309, 1984.

CALLICOTT, J. B. Environmental Ethics - Introduction. In: ZIMMERMAN, M. et al. (Eds.). Environmental Philosophy: From Animal Rights to Radical Ecology. 4.ed. Upper Saddle River, N.J: Pearson, 2004. p. 5–15.

CALLICOTT, J. B. Thinking like a planet: the land ethic and the earth ethic. New York: Oxford University Press, 2013.

CUNHA, L. C. Vítimas da natureza:implicações éticas dos danos que os animais não humanos padecem em decorrência dos processos naturais. 2018. Tese (Doutorado em filosofia) — Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

ECKERSLEY, R. Environmentalism and Political Theory: Toward an Ecocentric Approach. Albany: State University of New York Press, 1992.

FOX, W. Toward a Transpersonal Ecology: Developing new fundations for environmentalism. Boston, London: Shambala, 1990.

GOODPASTER, K. On Being Morally Considerable. The Journal of Philosophy, v. 75, n. 6, p. 308–325, 1978.

GREY, W. Anthropocentrism and Deep Ecology. Australasian Journal of Philosophy, v. 71, n. 4, p. 463–475, 1993.

HAYWARD, T. Anthropocentrism: A Misunderstood Problem. Environmental Values, v. 6, n. 1, p. 49–63, 1 fev. 1997.

HONENBERGER, P. Naturalism, pluralism an the human place in the worlds. In: HONENBERGER, P. (Ed.). Naturalism and Philosophical Anthropology: Nature, Life, and the Human between Transcendental and Empirical Perspectives. London: Palgrave Macmillan, 2015.

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução: Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

KOPNINA, H. et al. Anthropocentrism: More than Just a Misunderstood Problem. Journal of Agricultural and Environmental Ethics, v. 31, n. 1, p. 109–127, 2018.

LIGHT, A. The Urban Blind Spot in Environmental Ethics. Em: HUMPHREY, M. (Ed.). Political Theory and the Environment: A Reassessment. New York: Routledge, 2001. p. 7–35.

LIGHT, A. Contemporary Environmental Ethics From Metaethics to Public Philosophy. Metaphilosophy, v. 33, n. 4, p. 426–449, 2002.

LIGHT, A.; KATZ, E. Environmental pragmatism and environmental ethics as contested terrain. Em: LIGHT, A.; KATZ, E. (Eds.). Environmental Pragmatism. London ; New York: Routledge, 1996. p. 1–18.

LOW, P. et al. The Cambridge Declaration on Consciousness. Francis Crick Memorial Conference on Consciousness in Human and non-Human Animals, , 2012. Disponível em: <https://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2022

MATHEWS, F. Environmental Philosophy. In: A History of Australasian Philosophy. Dordrecht: Springer, 2014. p. 543–591.

MINTEER, B. Refounding Environmental Ethics: Pragmatism, Principle, and Practice. Philadelphia: Temple University Press, 2011.

NAESS, A. The shallow and the deep, long‐range ecology movement. A summary. Inquiry, v. 16, n. 1–4, p. 95–100, 1 jan. 1973.

NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal. Tradução: Márcio Pugliesi. Curitiba: Hemus, 2001.

NORTON, B. Environmental Ethics and Weak Anthropocentrism. Environmental Ethics, v. 6, n. 2, p. 131–148, 1984.

NORTON, B. Toward Unity among Environmentalists. New York: Oxford University Press, 1991.

NORTON, B. Integration or Reduction: Two Approaches to Environmental Values. In: LIGHT, A.; KATZ, E. (Eds.). Environmental Pragmatism. London ; New York: Routledge, 1996. p. 105–138.

PASSMORE, J. Man’s responsibility for nature; ecological problems and Western traditions. New York: Charles Scribner, 1974.

PICCOLO, J. et al. Future rivers, dams and ecocentrism. The Ecological Citizen, v. 2, n. 2, p. 173–177, 2019.

REGAN, T. The case for animals rights. Berkeley: University of California Press, 1983.

ROLSTON, H. Environmental ethics: duties to and values in the natural world. Philadelphia: Temple Univ. Press, 1988.

ROUTLEY, R. Is There a Need for a New, an Environmental Ethic?. Proceedings of the XII World Congress of Philosophy -Varna, Bulgaria, v. 1, p. 205–210, 1973.

SAMUELSSON, L. Environmental pragmatism and environmental philosophy: a bad marriage! Environmental Ethics, v. 32, n. 4, p. 405–415, 2010.

SCHELER, M. Posição Do Homem No Cosmos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

SINGER, P. Animal Liberation. New York Review of Books, v. April, n. 5, 1973.

SINGER, P. Libertação animal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

STEPHENS, P. H. G. Sustainability, Democracy, and Pragmatism Bryan Norton’s Philosophy of Ecosystem Management. Organization & Environment, v. 20, n. 3, p. 386–392, 2007.

SÜSSEKIND, F. Sobre a vida multiespécie. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 69, p. 159–178, 27 abr. 2018.

TARGA, D.C. Entre a conversão antropológica e a regressão ética: uma apologia do decrescimento no debate ecopolítico atual. Resenha de BESSON-GIRARD, J.C. Por uma conversão antropológica: o decrescimento é a saída do labirinto. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 54, n. jul/dez., p. 200–204, 2020.

TARGA, D.C. Para uma Genealogia da Filosofia Ambiental. PERI, v. 13, n. 2, p. 73–91, 2021.

TARGA, D.C. Filosofia ambiental e ecofilosofia. Problemata, v. 13, n. 2, p. 137–152, 2022.

TAYLOR, B. Religion, Violence and Radical Environmentalism: From Earth First! to the Unabomber to the Earth Liberation Front. Terrorism and Political Violence, v. 10, n. 4, p. 1–42, 1998.

TAYLOR, P. Respect for Nature: A theory of Environmental Ethics. Princeton: Princeton University Press, 1986.

THOMPSON, J. Preservation of Wilderness and the Good Life. Em: ELLIOT, R.; GARE, A. (Eds.). Environmental Philosophy. St Lucia: University of Queensland Press, 1983. p. 85–108.

TRUJILLO, H. R. The Radical Environmentalism Movement. In: JACKSON, B. A. (Ed.). Aptitude for destruction : organizational learning in terrorist groups and its implications for combating terrorism. Santa Monica: RAND Corporation, 2005. p. 141–172.

WARREN, K. Feminist Environmental Philosophy. The Stanford Encyclopedia of Philosophy, n. summer, 2015.

WASHINGTON, H. et al. Why ecocentrism is the key pathway to sustainability. The Ecological Citizen, v. 1, p. 35–41, 2017.

WASHINGTON, H. Ecosystem Services: A key step forward or anthropocentrism’s ‘Trojan Horse in conservation? In: KOPNINA, H. (Ed.). Conservation: Integrating Social and Ecological Justice. New York: Springer, 2020. p. 73–90.

ZIMMERMAN, M. Contesting Earth’s Future: Radical Ecology and Postmodernity. Berkeley: University of California Press, 1997.

ZIMMERMAN, M. Environmental Philosophy VI: Post-Modern Philosophy. In: CALLICOTT, J. B.; FRODEMAN, R. (Eds.). Encyclopedia of environmental ethics and philosophy. Detroid: Macmillan, 2009. v. 1p. 381–384.

Downloads

Publicado

2023-06-18

Como Citar

CARVALHO TARGA, Dante. Sobre a clivagem antropocêntrico/ecocêntrico na filosofia ambiental. Griot : Revista de Filosofia, [S. l.], v. 23, n. 2, p. 210–226, 2023. DOI: 10.31977/grirfi.v23i2.3273. Disponível em: https://periodicos.ufrb.edu.br/index.php/griot/article/view/3273. Acesso em: 19 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigos