O equívoco de Robert Nozick ao interpretar a questão da propriedade em Locke

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31977/grirfi.v20i3.1843

Palavras-chave:

Nozick; Locke; Propriedade.

Resumo

Em Anarquia, Estado e Utopia (1974), Robert Nozick defende um Estado mínimo ao qual não deve ser dado o direito de redistribuir a propriedade que já foi distribuída pelos individuos. Nozick se apoia na ideia de estado de natureza tal como Locke propôs no Segundo Tratado Sobre o Governo (1689), aproveitando, inclusive, a maneira de Locke fundamentar a propriedade privada. Locke explicou o direito natural à propriedade por meio do trabalho para superar uma crítica que Robert Filmer havia dirigido a Hugo Grotius anos antes. Grotuis considerava haver, originalmente, um direito comum à posse dos bens e defendia que a propriedade privada surgiu a partir de um contrato entre os indivíduos. Filmer colocou em dúvida que um contrato para dividir a propriedade pudesse ter sido firmado entre todos ao mesmo tempo. Locke também defendia a propriedade privada a partir da propriedade comum, mas precisava superar a objeção que Filmer havia dirigido a Grotius. Nesse sentido surge a ideia de trabalho como fundamentador da propriedade privada, pois é o trabalho que a legitima em vez do contrato. Nozick, apesar de uma longa análise sobre a teoria da aquisição de Locke, em que discorre, inclusive, sobre o papel do trabalho no surgimento da propriedade privada, afirma que Locke pensava os bens naturais originalmente sem dono, quando, na verdade, para Locke eles eram propriedade comum a todos. O propósito do presente texto é elencar e avaliar algumas possíveis consequências desse pequeno equívoco interpretativo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Flávio Gabriel Capinzaiki Ottonicar, Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)

Doutorando em Filosofia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), São Carlos – SP, Brasil.

Referências

ASHCRAFT, Ricahrd. Revolutionary Politics and Locke's Two Treatises of Government. Princeton: Princeton University Press, 1986.

BERLIN, Isaiah. Two Concepts of Liberty. In: BERLIN, I. Four Essays on Liberty. Oxford: Oxford University Press. 1969.

BOBBIO, Norberto. Locke e o Direito Natural. Trad. Sérgio Bath. Brasília: UnB, 1997.

FILMER, Robert. Patriarcha and other political Works. Edited by Peter Laslett. Oxford: Blackwell, 1949.

GOUGH, John Wiedhofft. Introdução. In: LOCKE, J. Segundo Tratado Sobre o governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Rio de Janeiro: Vozes, 1994.

GROTIUS, Hugo. O direito da guerra e da paz. Trad. Ciro Mioranza. 2°ed. Ijuí: Unijuí, 2005.

LASLETT, Peter. A teoria social e política dos Dois tratados sobre o governo. In: LOCKE. John. Dois tratados sobre o governo. Tradução de Julio Fischer. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

LOCKE, John. Dois Tratados Sobre o Governo. Trad. Julio Fischer. 2° ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MORRESI. Sérgio Daniel. Robert Nozick e O Liberalismo Fora De Esquadro. Lua Nova, São Paulo, nº 55-56, 2002. [online] Disponível em https://www.scielo.br/pdf/ln/n55-56/a14n5556.pdf. Consultado em 12/05/2020.

NOZICK, Robert. Anarquia, Estado e Utopia. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro, Jorge Zahar: 1991.

POLIN, Raymond. John Locke’s conception of freedom. In: YOLTON, J.W. (ed.) John Locke: problems and perspectives. Cambridge: Cambridge University Press, 1969.

SAHD, Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva. Considerações sobre o fundamento moral da propriedade. Kriterion, Belo Horizonte, vol.48 no.115, 2007. [online] Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2007000100013. Consultado em 12/05/2020.

STRAUSS, Leo. Direito Natural e História. Trad. Miguel Morgado. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2009.

Downloads

Publicado

2020-10-20

Como Citar

OTTONICAR, Flávio Gabriel Capinzaiki. O equívoco de Robert Nozick ao interpretar a questão da propriedade em Locke. Griot : Revista de Filosofia, [S. l.], v. 20, n. 3, p. 145–153, 2020. DOI: 10.31977/grirfi.v20i3.1843. Disponível em: https://periodicos.ufrb.edu.br/index.php/griot/article/view/1843. Acesso em: 27 dez. 2024.

Edição

Seção

Artigos