Heidegger e a noção de jogo como disposição
DOI:
https://doi.org/10.31977/grirfi.v20i1.1338Palavras-chave:
Jogo; Transcendência; Compreensão de ser; Disposição; Ser-no-mundo.Resumo
Na filosofia contemporânea, as abordagens da noção de jogo raramente fazem referência a Heidegger; em preleções ministradas no curso de inverno de 1928/1929, Heidegger apresentou importantes reflexões sobre o que considerava ser o jogo originário da transcendência, as quais exerceram influência em autores que aprofundaram o debate sobre a noção de jogo, tais como Hans-Georg Gadamer, em Verdade e Método (1960), e Eugen Fink, em O jogo como símbolo do mundo (1960). Este artigo pretende tratar da noção de jogo desenvolvida na obra Introdução à Filosofia, a qual constitui o registro dessas preleções. A meta é demonstrar que, para Heidegger, antes do jogo, e de qualquer regramento instituído por meio deste, somos movidos por uma disposição (Stimmung) relacionada a um jogar (spielen) originário que domina e impulsiona o ser-aí ao ser-no-mundo (In-der-Welt-sein) vinculando-o com sua mundanidade (Weltlichkeit). Essa disposição, enquanto estado de ânimo ou tonalidade afetiva, leva o ser-aí a constituir mundo como espaço de jogo (Spielraum) da transcendência. Além disso, é importante destacar que o ser-aí (Dasein) é aquele para quem sempre está em jogo o seu próprio ser, pois reside nele uma abertura peculiar que é a base do comportamento vivo e pulsante do humano em geral; porque enquanto abarcado pelo ente no todo, enquanto movido pela transcendência e pela compreensão de ser (Seins-verständnis), o ser-aí estaria sempre situado num jogo da vida (Spiel des Lebens).
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